sábado, 7 de abril de 2018

O Filho do Homem está no Céu

Por Tom Tai-Seale.

Observa que se diz: "O Filho do Homem está no céu", apesar de naquele tempo Cristo ter estado na terra. Repara também que se diz que Cristo veio do céu, embora tenha vindo do ventre de Maria, e o Seu corpo nasceu de Maria. É claro, portanto, que quando se diz que o Filho do Homem veio do céu, isso não tem um significado exterior, mas sim interior; é um facto espiritual, não material. O significado é que, apesar de aparentemente Cristo ter nascido do ventre de Maria, Ele, na realidade, veio do céu, do centro do Sol da Realidade, do Mundo Divino e do Reino Espiritual. E como se tornou evidente que Cristo veio do céu espiritual do Reino Divino, então, o Seu desaparecimento da terra durante três dias tem um significado interior e não é um facto exterior. Do mesmo modo, a Sua ressurreição no interior da terra também é simbólica; é um facto espiritual e divino, e não material; e do mesmo modo, a ascensão ao céu é uma ascensão espiritual e não material. (‘Abdu'l-Bahá, Some Answered Questions, pp. 103-104)
Alguns cristãos seguem fielmente uma interpretação literal da Bíblia e acreditam que o próprio Paulo viu Jesus ressuscitado na carne - mas a Bíblia contém fortes evidências contra essa visão simplista e literal. Os Bahá'ís acreditam - como ‘Abdu'l-Bahá explica no parágrafo acima - que apenas podemos abordar e compreender verdadeiramente os Livros Sagrados de qualquer religião como simbólicos e metafóricos. O seu sentido espiritual, tão profundo e significativo, escapa-nos se o tratarmos como um simples relato literal de acontecimentos reais.

Por exemplo, Paulo disse aos Gálatas (1:12) que o evangelho que ele pregou não foi recebido de nenhum homem, mas que foi recebido de uma revelação de Jesus Cristo. Da mesma forma, ele diz aos Efésios (3: 3) que foi através de uma revelação que o segredo de Deus lhe foi dado a conhecer. As revelações não têm corpos. Assim, Eusébio, o primeiro historiador da igreja na sua obra História da Igreja, afirma que Paulo recebeu o seu chamamento através de uma visão. O Jesus que Paulo conheceu foi o glorificado pelo Pai, o que, segundo a sua própria terminologia farisaica, foi ressuscitado. Por outras palavras, Paulo não encontrou o corpo físico de Cristo, mas a Sua realidade espiritual. Paulo sabia bem que Jesus havia subido ao Seu legítimo lugar no reino de Deus e que, seguindo os passos de Cristo, nós também poderíamos ser salvos. Esta mensagem de ressurreição, tão central para o Cristianismo de Paulo, não pode ser entendida literalmente.

Alguns insistem e argumentam que Paulo conheceu Jesus em carne na estrada de Damasco. Mas esse argumento falha porque Paulo não escreveu o relato do seu encontro com um Cristo ressuscitado na estrada de Damasco. Se Paulo, que nunca era parco de palavras, realmente tivesse conhecido Jesus em carne na estrada para Damasco, certamente ele teria escrito repetidamente sobre isso. Mas não o fez. Quando Paulo fala de ter "visto" Jesus (por exemplo, 1 Cor 9: 1), ele não estava a falar de ver Jesus na carne. Pelo contrário, ele falava do que viu com percepção em vez de visão, de revelação e não de corpo. Paulo escreve (1 Tim 3:16): "Aquele que se manifestou em carne, foi justificado em espírito". Este Espírito, dizem as palavras seguintes, não foi visto pelos homens, mas "visto dos anjos". Neste contexto, os comentários de Paulo fazem sentido.

Quando entendido na ampla perspectiva do passado de Paulo no farisaísmo (que acreditava numa ressurreição espiritual) e a forma como Paulo usa a linguagem (o que lhe permitia usar metáforas livremente), somos levados a concluir que a ressurreição de que Paulo falou não era uma ressurreição física.

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Texto Original: The Son of Man is in Heaven (www.bahaiteachings.org)

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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas A&M University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahai: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press.

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