quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Porque é que os Bahá’ís não se envolvem na política?

Por David Langness.

Não disputes com ninguém sobre as coisas deste mundo e seus assuntos, pois Deus abandonou-os àqueles que colocaram os seus afectos sobre isso. De entre todo o mundo, Ele escolheu para Si próprio os corações dos homens – corações que as hostes da revelação e da palavra podem subjugar. (Bahá’u’lláh, SEB CXXVIII)

...os interesses religiosos não devem ser levados para a política. As religiões devem tratar da moral; a política das circunstâncias materiais. ('Abdu'l-Bahá, Star of the West, Vol.2, pag.7)
Os objectivos derradeiros da Fé Bahá’í - reconciliar, unificar, curar as divisões e conseguir o amor e o respeito mútuo entre todos os seres humanos - não se podem alcançar através da política.

A política é, por natureza, inerentemente divisiva, e funciona através da oposição entre grupos. A política partidária separa, divide e isola. Em vez de unir as pessoas, força o seu afastamento, criando facções que se opõem, exigindo-lhe que desprezem e desvalorizem o outro lado e que lutem entre si. A política cria e alimenta uma mentalidade tipo “nós contra eles”. Noutro sentido, a política partidária actual lembra muito a guerra, sem a violência patente. É conhecida a frase de Von Clausewitz: “A guerra é apenas a continuação da política por outros meios".

Os ensinamentos Bahá’ís concordam, salientando que a guerra constitui a antiga base do nosso sistema politico partidário; e que o devemos substituir por uma política moderna baseada na paz:
Desejo que esta bênção surja e se torne manifesta nas faces e características dos crentes, para que eles, também, se tornem um novo povo, e encontrem uma nova vida e sejam baptizados pelo fogo e pelo espírito, e possam fazer do mundo um novo mundo, e que por fim a velha terra possa desaparecer e a nova terra aparecer; que as velhas ideias se afastem e novos pensamentos apareçam; que as velhas roupas sejam postas de lado e novas roupas sejam usadas; que a antiga política cuja base é a guerra seja rejeitada e uma política moderna baseada na paz erga o estandarte da vitória; que uma nova estrela brilhe e cintile e um novo sol ilumine e irradie; que as novas flores desabrochem; que uma nova primavera seja conhecida; que sopre uma nova brisa; que uma nova graça seja concedida; que a nova árvore dê frutos; que uma nova voz se erga e este novo som chegue aos ouvidos, que o novo suceda ao novo e todos os antigos adereços e adornos sejam postos de lado e novas decorações colocadas no seu lugar.

Desejo que todos vós tenhais esta grande ajuda e partilhem esta grandiosa dádiva, e que no espírito e no coração se esforcem e empenhem até que o mundo da guerra seja o mundo da paz; o mundo das trevas o mundo da luz; o comportamento satânico transformado em conduta celestial; os locais arruinados reconstruídos; a espada transformada num ramo de oliveira; o relâmpago do ódio transformado na chama do Amor de Deus e o ruído da arma na voz do Reino; os soldados da morte nos soldados da vida; todas as nações do mundo numa única nação; todas as raças como uma raça; e todos os hinos nacionais numa única melodia ('Abdu'l-Bahá, Star of the West, Volume 2, p. 1)
Então como conseguiremos alcançar essa bela visão de unidade e paz que os ensinamentos Bahá’ís apresentam? Podemos lá chegar com os velhos sistemas de política partidária – ou precisamos de uma nova política global, mais evoluída, que unifique em vez de dividir?

Os ensinamentos Bahá’ís prepararam um novo caminho para esses objectivos sublimes. Os Bahá’ís tentam trabalhar a de uma forma mais profunda e permanente do que os políticos alguma vez conseguirão. Os ensinamentos Bahá’ís pedem-nos que evitemos a política partidária para curar (e não alargar!) as divisões entre pessoas e partidos. Para unir a humanidade temos de ultrapassar o estilo de política bélica que se usa na nossa sociedade civil, e encontrar formas de curar a verdadeira doença em vez de colocar curativos temporários nos sintomas:
A doença que aflige o corpo político é a falta de amor e ausência de altruísmo. Nos corações dos homens não se encontra amor real, e a condição é tal que, a menos que as suas sensibilidades sejam vivificadas por algum poder, para que a unidade, amor e harmonia se possam desenvolver dentro deles, não poderá haver cura, nenhum acordo entre a humanidade. O amor e a unidade são as necessidades do corpo político de hoje. Sem estes, não se pode alcançar progresso ou prosperidade. Portanto, os amigos de Deus devem aderir ao poder que irá criar esse amor e unidade no coração dos filhos dos homens... Esta é uma exigência dos tempos, e o remédio divino foi ministrado. Os ensinamentos espirituais da religião de Deus podem, só por si, criar este amor, unidade e harmonia nos corações humanos. ('Abdu'l-Bahá, Star of the West, Volume 10, pp. 115-116)
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Texto original: Why Baha’is Don’t Participate in Politics (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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